domingo, 31 de janeiro de 2010

TRENDS BRASIL - Tendências de Negócios para Micro e Pequenas Empresas

As vinte tendências selecionadas pelos autores do livro foram:

- Tendência 1: Consumo precoce
- Tendência 2: Crescimento do número de animais de estimação
- Tendência 3: Disseminação do conceito de Responsabilidade
- Tendência 4: Sentimento de brasilidade
- Tendência 5: Ênfase na singularidade
- Tendência 6: Retorno a valores tradicionais/ onda retrô
- Tendência 7: Aumento da busca espiritual e mística
- Tendência 8: Crescimento do mercado afro-descendente
- Tendência 9: Preocupação com a estética e aparência
- Tendência 10: Grande número de pessoas morando sozinhas
- Tendência 11: Filhos morando mais tempo com os pais
- Tendência 12: Grande número de casais sem filhos
- Tendência 13: Aumento da população + 60
- Tendência 14: As pessoas estão passando mais tempo em casa
- Tendência 15: Aumento da sensação de insegurança nas pessoas
- Tendência 16: Consumo de ecossoluções
- Tendência 17: Busca pela experienciação / experimentação
- Tendência 18: Envolvimento com o mundo digital
- Tendência 19: Prioridade à saúde
- Tendência 20: Convivência entre o global e o local

No mundo dos negócios as tendências exercem influência sobre tal, desta maneira os empreendedores precisam estar preparados e capacitados para as repentinas mudanças, modelando os empreendimentos para esse novo momento. Dentre as tendências citadas, a tendência 17 merece atenção especial, pois se trata das experiências vividas.

As pessoas estão, cada vez mais, interessadas em ter novas experiências de vida, o que implica, por exemplo, o crescimento do turismo de experimentação.

Busca pela experienciação/experimentação

Algo que se percebe com um fenômeno crescente na sociedade contemporânea é o desejo das pessoas em “ter a experiência de...”, no sentido de viver situações bastante incomuns em relação à sua vida cotidiana, como num exercício de empatia que possibilite viver “outras vidas”. Não se trata apenas de experimentar coisas, novas vai, além disso, implica viver novos papéis. Tem gente que se pergunta como será viver a vida de um trabalhador do campo e então se hospeda por uma semana numa fazenda e passa a trabalhar na lida diária tal como um peão. Passa pela experiência de ser um peão por uma semana. Outros gostariam de sentir como é a vida numa favela e se inscrevem em programas de intercâmbio de férias para durante um mês: morar, trabalhar, viver e ajudar as pessoas numa favela.
Hoje, tem muita gente interessada e disposta a viver novas experiências, a trocar de lado, trocar de área, de campo, de vida. Nem que seja por um breve período. Gente com vontade de “colocar a mão na massa” e experimentar como seria sua vida em outras condições, em outras atividades, em um outro ambiente. Isso abre um universo de possibilidades de negócios novos e de inovações em negócios tradicionais pode resultar em bons negócios.

Razões dessa tendência

Essa tendência tem bastante a ver com o espírito do “homem do século XXI”, que conquistou a liberdade de se expressar e de sentir o que lhe der vontade. Há, nos dias de hoje, uma espécie de Renascença – Parte 2, na qual o foco passa a ser novamente o homem, com suas circunstâncias, dramas, aspirações, sonhos e desejos. Isso como um contramovimento ao processo de massificação dos comportamentos, dos costumes e de estandartização do consumo, provocados pelo fenômeno da globalização.
Depois de algumas décadas de ênfase na ideologia e no coletivo, o ser humano parece disposto a recuperar o tempo perdido, a viver intensamente sua vida e ter as mais diversas experiências.Essa é uma das razões de várias tendências comportamentais, como a da busca pela singularidade, que já referimos anteriormente. Além disso, o desenvolvimento tecnológico ampliou essa liberdade uma vez que facilitou os processos produtivos, dando mais tempo para que as pessoas pensem em si, e multiplicou os canais de comunicação e de acesso à informação.
Outra razão dessa tendência, talvez, esteja na busca dessas pessoas em perceber, entender e construir sua própria identidade a partir de um contexto completamente diferente daquele que vive no seu dia-a-dia, como que se colocando “fora de sua vida” para vê-la em perspectiva e poder afirmar ou redefinir seus rumos. Isso, provavelmente, explica melhor essa busca pela experiência, do que vê-la apenas como um exercício de hedonismo, de prazer sensorial e busca de novidades.

Impacto sobre os negócios

Um dos impactos que essa tendência pode exercer sobre os negócios é o de obrigar os empreendedores a pensar diferente, a ver novas oportunidades de receita naquilo que já fazem. Na medida em que há pessoas interessadas em ter “experiências de...”, por que não oferece oportunidade disso no negócio que já temos? Se, por exemplo, você possui ou administra uma fábrica de móveis, pode pensar em abrir possibilidade para marceneiros amadores viverem a experiência de trabalhar num ambiente profissional de fabricação de móveis. Pode ser um curso rápido de uma semana, no qual os alunos farão móveis de verdade, do catálogo da empresa. Ou se você possui uma oficina mecânica, pode fazer o mesmo, para que pessoas apaixonadas por carro ou mecânicos de finais de semana possam vivenciar o dia-a-dia de mecânicos profissionais. O mesmo raciocínio pode ser usado nos mais variados segmentos de negócios.
Essa tendência também representa oportunidades para o empreendedor que estiver disposto a viabilizar e oferecer condições para que esse público viva as experiências desejadas. Um empreendedor pode organizar grupos de pessoas interessadas em passar um período de tempo numa colônia de pescadores, por exemplo, ou numa comunidade de tecelões no interior da Paraíba, ou ainda, entre os trabalhadores de uma vindima. O turismo de experimentação pode representar boas oportunidades de negócios.
Além disso, essa ideia de que há um número significativo de pessoas interessadas em viver novas experiências pode ser um interessante mote mercadológico para empresas das mais diversas áreas. Uma montadora poderia oportunizar que clientes fiéis de sua marca acompanhem de perto a fabricação de seu automóvel, usando essa possibilidade como apelo do marketing promocional. As empresas devem estar atentas e abertas a oferecer tais oportunidades de experienciação a seus clientes.

Sugestões de negócios
Agência de experienciação
Um negócio óbvio para aproveitar essa tendência é criar uma agência especializada em projetos de experienciação. Tal agência deve ser um misto de agência de turismo com agência de promoção de pessoas em projetos já existentes – turismo rural, por exemplo – como, também, criar seus próprios projetos (obviamente, sem prescindir do realismo, básico na experienciação).
Tais projetos dependerão da região geográfica e da parcela de público a que a nova empresa pretenderá atender e, ainda, da dimensão que o empreendedor planeja dar a esse negócio. Sendo assim, pode-se imaginar desde pequenos projetos locais, como participações e colheitas de hortifrutigranjeiros no cinturão verde da cidade, como ter um âmbito nacional ou internacional. Como colher uvas no Vale dos Vinhedos (indicação geográfica reconhecida pelo INPI em 2002), ou um curso de queijaria numa fazenda mineira.
Essa agência precisa pesquisar, de alguma forma, o seu público preferencial e conhecer-lhe os gostos pessoais, sonhos e desejos latentes, disponibilidade de tempo recursos, enfim, o maior número de informações que possibilite identificar experiências que venham a despertar-lhes o interesse.
Sensibilidade, criatividade e capacidade de organização e articulação são indispensáveis para um negócio desse tipo. Um excelente exemplo é a empresa portuguesa. A vida é Bela. Dê uma olhadinha no site da empresa (www.avidaebela.com) e veja que genial.

Cursos especiais com experienciação
Em vez de oferecer experiências pontuais e breves como no caso da agência citada anteriormente, você pode empreendera formulação de cursos como uma duração um pouco maior, que proporcionem aos alunos uma experienciação efetiva no campo de interesse daquele curso e que lhes sirva para a vida toda.
Exemplo: cresceu muito nos últimos anos o interesse dos brasileiros por vinho. Já existem inúmeros especialistas profissionais e um número maior ainda de especialistas amadores. Muitos desses gostariam de entender mais de vinho, tal como um sommelier e ter a experiência de trabalhar um tempo que seja como tal.
Na maioria das cidades brasileiras, não existem cursos que formem sommeliers, muito menos que proporcionem aos alunos uma vivência prática num restaurante com uma boa adega. Pode ser que isso encontre mercado.
Essa é apenas uma possibilidade. Mas, existe um sem-número delas. Tem gente que adora cantar e que adoraria participar de um curso de canto e música, que ao final proporcionasse cantar por um tempo num bar noturno, por exemplo, ou gravar um CD. Outros gostam muito de construção e estariam dispostos a participar de um curso prático para formação de pedreiros e, depois, poder exercitar seus aprendizado prestando trabalho social em comunidades carentes da cidade. O mesmo raciocínio serve para uma afinidade de outros possíveis cursos.

Espaços dos Sentidos
Esse desejo de experienciação tem muito a ver com o exercício dos sentidos. Um negócio que talvez possa ter êxito é um espaço, num shopping Center ou numa outra área de grande movimentação de público, que ofereça essa possibilidade de exercitar os sentidos (tato, audição, olfato, paladar e visão) de forma lúdica.
Tal espaço poderia oferecer possibilidades inusitadas para que as pessoas exercitem seus sentidos, experimentando gostos exóticos, perfumes e aromas desconhecidos, texturas e formas diferentes, sons raros, enfim, um universo sensorial todo novo. O usuário poderia passar por um teste ao estilo “quis” para ver se consegue descobrir a origem dessas novas sensações.
A idéia básica é proporcionar ás pessoas experimentações e sensações novas. Assim, nesse espaço, o usuário poderá sentir como é a textura de uma espoja do mar ou do barro de oleiro, ouvir o som de pássaros exóticos ou ainda experimentar o gosto de um tempero indiano ou de um doce árabe. É, sem dúvida, um negócio diferente e criativo.

Dicas para negócios existentes
Um fabricante ou varejista de colchões poderia criar cabines em aeroportos para que o público possa experimentar seus produtos enquanto descansa por um tempo. Oferecer experimentação em ambientes inusitados pode ser uma boa estratégia de marketing.
Uma escola de natação poderia oferecer um final de curso diferente, oportunizando a seus alunos uma experiência nova: nadar com os golfinhos, por exemplo. Ou participar de prova de travessia de rios ou, ainda, nadar com um atleta olímpico.
Um fabricante ou varejista de ar-condicionado poderia criar um ambiente de praia na serra, ou vice-versa, oportunizando ao público experimentar a sensação de estar noutro lugar. A mesma idéia poderia ser usada na divulgação de destinos turísticos. O inverno gaúcho poderia ser promovido no Nordeste por meio de um ambiente climatizado: ou as praias de Alagoas serem promovidas no Sul através de um ambiente aquecido e com motivos praianos.
No futuro, a nanotecnologia poderá ser uma grande aliada nesse tipo de iniciativa, uma vez que poderá oportunizar sensações, cheiros, ambientação na medida em que os componentes que se utilizem possibilitem exalar perfumes, hibridismo de cores, toque mais macio, etc.

Fonte: Kakuta, Susana. Trends Brasil: tendências de negócios para micro e pequenas empresas. Júlio Ribeiro. Porto Alegre: SEBRAE/RS, 2007, páginas 125 a 130.

Um comentário:

  1. Interessante o texto e muito reflexivo para o momento que vivemos, traz muitas ideias que podem ser desenvolvidas de diversas formas.

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