segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Inverdades Verdadeiras - Veríssimo

ROmeu e Julieta, que se saiba, nunca existiram, o que não impede que milhares de turistas por ano parem numa calçada para admirar o balcão da casa dos Capuletos, onde a doce Ofélia ouviu as primeiras juras de amor do inflamado Romeu, em Verona. Parece que ninguém em Verona jamais disse, oficialmente, que aquela era a sacada mais famosa do mundo. Um guia turístico empreendedor, e criativo, teria decidido que o balcão poderia ser o do quarto da Julieta, conforme a descrição do Shakespeare, e o inclui no seu roteiro. Afinal, uma ficção completava a outra. As pessoas que não se conformavam em visitar Verona e sair sem nem uma lembrança do casal de amantes finalmente tinham o que contar em casa. Por que desmentir uma história tão bonita?
O endereço de Sherlock Holmes era 221B, Baker Street. O endereço não existia quando Conan Doyle escreveu as histórias do seu detetive infalível. A numeração em Baker Street ia só até 100. Mais tarde, depois da Segunda Guerra Mundial, em que Londres foi bombardeada e muitos prédios da rua foram destruídos, um novo prédio localizado mais ou menos no local em que ficaria o apartamento de primeiro andar onde Holmes tocava seu violino, consumia sua cocaína ou sua morfina sob olhares de reprovação do Dr. Watson – e resolvia seus casos, muitas vezes sem sair da poltrona – pediu permissão para usar o número 221B. E é neste prédio que continua a chegar, todos os dias, correspondência dirigida a Sherlock Holmes. Os turistas que visitam Baker Street também podem entrar no Museu Sherlock Holmes (que disputa com o outro prédio o direito de usar o 221B) para ver os objetos pessoais, incluindo os cachimbos, os bonés e, supõe-se, os chinelos de alguém que nunca existiu. Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, acreditava em espíritos, duendes e forças paranormais, coisas que seu herói super-racionalista desprezava. Doyle poderia alegar, numa discussão póstuma com sua criatura, que, afinal, estava certo: uma invenção literária cujos chinelos continuam reais depois de tantos anos é um exemplo indiscutível do poder da metafísica. Leia mais...

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